A despeito da palavra ‘Verdade’ e do conceito que a mesma carrega consigo se faz necessário o desenvolvimento de uma comparação justa, pois se se pode dizer ser a verdade a ausência da mentira e, pela lógica, a mentira a ausência da verdade; pode-se também buscar em qualquer contexto o parâmetro para explicá-las. A comparação justa acima citada será feita com base na distancia conceitual entre as duas por meio de dois exemplos: a relação entre a luz e a sobra no “Mito da Caverna” de Platão e a definição bíblica dessa mesma distancia contida no contraponto Jesus e Satanás.
Relembrando o mito descrito por Platão; a realidade apreensível pelas pessoas que estavam no interior da caverna era composta por sombras do que havia em seu exterior. Era necessária uma intervenção reveladora para que essa realidade sofresse uma alteração. Tal intervenção foi o som vindo do exterior. Na acepção bíblica existe o mesmo ponto, se observados os evangelhos, entre a figura de Jesus e a de Satanás.
É preciso antes de mais lembrar as palavras que se configuram o cerne do assunto aqui apresentado: verdade e mentira. A palavra verdade de origem grega significa revelação, esclarecimento, dês-ocultação. Em contraste temos a mentira que vem, a ser uma maquinação da mente. O evangélio de João 14:6 trás Jesus como “o caminho a verdade e a vida”, pois “A lei foi dada por intermédio de Moisés, a benignidade imerecida e a verdade vieram à existência por intermédio de Jesus Cristo” segundo o apóstolo João em João 1:17. Este último texto refere-se às mudanças implementadas na lei por Jesus sob a égide do novo conceito de amor que ele mesmo trouxe à tona.
Em contraposição ao papel exercido por Jesus, na liturgia bíblica, está o de Satanás “Esse foi um homicida quando começou, e não permaneceu firme na verdade, porque não há nele verdade. Quando fala a mentira, fala segundo a sua própria disposição, porque é um mentiroso e o pai da [mentira].” Nota-se que satanás, desde o início, maquina processos de ocultação do que realmente estava posto por Jeová como realidade a ser respeitada. Tanto no caso de Adão e Eva quanto no de Jesus enquanto estava no ermo distorcendo de forma hábil as palavras da Lei divina na tentativa de aprisionar na mentira seus alvos.
Em comparação, em plena 5ª Revolução Industrial, Era Digital Analítica (segundo Ricardo Cappra), em que a ação disruptiva não mais se dará pela tecnologia, mas pela criatividade e inovação amparada por dados, a dualidade FAKE or TRUE continua a “assombrar” quais quer fatos do cotidiano. Temos que a verdade é associada ao esclarecimento e à luz e a mentira (ou falta de verdade) e associada ao obscurecimento e as trevas. Ora, se partirmos desse pressuposto deixamos de lado as tonalidades de claro e escuro que permeiam todos nós. Então cabe acrescentar que existem vários pontos de vista acerca do que é verdade, conforme Leonardo Boff “todo ponto de vista, é a vista um ponto”.
Seria, portanto, impossível ao ser humano alcançar a verdade? Não a “Verdade Absoluta”, mas a porção deleitável da mesma? Confúcio disse: “Conhecer a verdade não é o mesmo que praticá-la e praticar a verdade não significa amá-la e deleitar-se com ela”. Para montar o quebra-cabeças da Verdade seria necessário indivíduos: neutros, conhecedores de todos os pontos de vista, que praticassem um exercício hermenêutico de observação ou leitura dos dados e que amassem profundamente a ideia de Verdade. Seria isso possível?
Depois disso alguém perguntaria... Quem escolherá os indivíduos e politizaria o processo, pior traria o conceito e ideologia para o processo, obscurecendo-o. Temos que esse é o problema da atualidade que não permite que as pessoas enxerguem a porção possível da Verdade. Não queremos enxergá-la. A dor semelhante à de que passou um tempo grande no escuro e vê o primeiro feixe de luz é maior do que nosso desejo pela luz. Esquecemo-nos de que todo crescimento envolve dor e que essa dor é um preço pequeno a se pagar para se deleitar na Verdade, mãe da Justiça, da Liberdade, da Dignidade e da Equidade.
Por: Sérgio Laviann
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